Lá volto eu às presenças na segurança social! Adorava já ter saudades, mas a verdade é que não tenho. Também não tenho direito a subsídio de desemprego, mas tenho a obrigação de me apresentar quinzenalmente e de procurar/contactar empresas todas as semanas (será que alguém me vai contratar quando falta um mês para a criança nascer? A acreditar nas pessoas das filas do supermercado, a barriga até nem se nota tanto assim (ficam sempre surpreendidas quando a/o funcionário da caixa me dá prioridade))
A verdade é que dá muito jeito estar em casa nesta altura. E a minha agenda até anda bem preenchida: consulta no centro de saúde uma vez por semana; consulta no hospital distrital (a 75 km de casa) uma vez por semana (sendo que aqui vou à enfermeira, passo para a obstetra, sigo para a médica da diabetes e termino o dia na nutricionista (e eu cheinha de fome...); depois tenho as visitas a empresas e as adoradas apresentações (onde não costumo demorar muito: é só esperar que a funcionária designada para o assunto desligue o telefone ou acabe o lanche... mas eu também estou desempregada por isso tenho tempo!!!)
Sim é verdade: estou um pouco resingona! É capaz de ser por causa das pernas inchadas ou da barriga que começa a pesar ou da dieta que me obriga a comer quase nada!
Vá agora já falta pouco. Em breve terei nos meus braços o meu bebé.
Passaram 8 anos daquela noite de trovoada. A noite que mudou para sempre as nossas vidas.
Não!! As nossas vidas mudaram 5 anos antes. Naquela segunda feira de primavera; naquele mês de Maio. Mudaram... Tornaram-se mais coloridas, mais preenchidas, mais verdadeiras.
Mas é hoje que faz anos que tudo mudou. Que a esperança desapareceu. Que a guerra acabou. Perdemos... Depois de milhões de vitórias...
Todos os dias encontro razões para desejar que estivesses cá: o crescimento do teu irmão, o nascimento dos teus primos, e da minha sobrinha, as vitórias e conquistas dos teus pais, ver-me acabar a licenciatura (sim voltei à escola porque me ensinaste a lutar pelo que desejamos). Mas hoje gostava que me visses grávida e que conhecesses o meu bebé.
A vida mudou tanto! Continuo a acreditar que foste tu quem me ensinou a mudar, quem me ensinou a melhorar...
Estou grata por ter feito parte da tua vida. Estou-te grata por tudo o que consegui ter na minha.
Hoje gostava de falar de vitórias. Até porque conheci algumas pessoas em que as suas curtas vidas foram autenticas longas vitórias.
Lembro a "minha menina", porque hoje, eronicamente, faz anos que eu tive o prazer de estar com ela e não me esqueço das duas liçoes que ela me deu exactamente há 8 anos:
- " O preto também é uma cor e os desenhos coloridos tem de ter todas as cores"
- " Não faças como o capuchinho vermelho que esculheu o caminho mais curto e acabou por arrnajar problemas!"
Sim a vida dela foi muito curta, mas tão cheia, tão vivida que vele por muitas vidas longas que andam por aí. A vida dela foi uma luta constante, todos os dias eram uma vitória e não podia ser doutra maneira pois todos sabiam que no dia em que perdessemos uma batalha iriamos perder a guerra...
E hoje, mais uma guerreira perdeu precocemente uma guerra por ter perdido uma batalha.
Eu sei que a maioria das pessoas pensa que é melhor assim, pois são vidas cheias de sofrimento e limitações e por isso mais vale que não se viva. Eu não penso assim e acho que a recompensa por se lutar e vencer uma e outra e outra e tantas batalhas não deveria ser esta. Não se deveria perder a guerra mas sim vence-la de vez...
Dizem-me com frequencia que cada gravidez é diferente e que em todas há coisas novas.
Eu concordo.
Apesar de ser a minha primeira gravidez (ou seja é tudo novidade, mesmo que tenhamos várias pessoas a bombardear-nos com as suas experiencias) é também a primeira vez que eu ouço falar no Rh- como algo "negativo".
Se essa novidade me fez recear muitas coisas (e continuo a recear e a rezar para que o meu bebé seja ele também Rh-, para que não exista nenhum tipo de reação do meu corpo em relação a ele); agora tenho mais um receio: a diabetes gestacional.
Apesar de estar diagnosticada desde as 20 semanas so ontem eu tive conhecimento de que sofria desse mal. Não fui muito esclarecida sobre o assunto. A equipa médica limitou-se a dizer que era mau para mim e para o bebé e indicou-me uma dieta e nada mais.
Eu acabei por ir consultar o "doutor google" e tenho imensa informação, mas não sei qual é a mais verdadeira.
De repente sinto-me como se o meu corpo fosse o principal inimigo do meu bebé.
Dizem que não ha melhor lugar do que a barriga da mãe, no entanto eu sei que o meu bebé corre riscos porque está dentro de mim.
Estou dividida:
- não há nada que eu mais goste que te-lo dentro de mim, senti-lo a mexer, saber que é so meu e que mais ninguem pode ter a sorte de o sentir como eu o sinto;
- mas depois vem a outra parte: o meu sangue, os meus diabetes podem fazer mal ao meu bebé...
Quando no ano passado comecei com as minhas caminhadas, minha irmã brincava comigo porque um grupo de vizinhas dela faziam caminhadas todos os dias e não eram notórios os resultados.
Ela sempre me dizia:
_ " Eu não sei como é...Quanto mais caminham mais barriga ganham!" Tu tem ciudado podes ficar como elas."
Pois é... Quando me olho ao espelho e vejo a minha barriga a crescer lembro-me sempre das palavras da minha irmã. O mal não foram as caminhadas, foi ter arranjado companhia para caminhar.
Agora olho-me ao espelho e pareço o Obelix.
P.S.: Sinto muitas saudades dos meus 30 minutos de corrida matinal, mas continuo a caminhar todos os dias as 7 da manhã (e a barriga contiua a crescer!!!)
Nunca fui grande coisa na cozinha. Mas hoje pensei que seria boa ideia fazer uma sobremesa.
Leite creme... O meu calcanhar de Aquiles nas sobremesas. Minha irmã mostrou-me um segredo para ficar sem os famosos borbotos. E é verdade se se misturar a farinha com o açúcar antes dos restantes ingredientes não aparecem.
Pois é, mas estar grávida obriga a visitas assíduas à casa de banho. E a sobremesa não sabe esperar... resultado: não só tem os borbotos como queimou-se e colou-se ao tacho...
Hoje é o dia de lembrar aqueles que por força do destino não estão cá, não estão presentes.
Dou comigo a lembrar um livro que li á alguns anos (e que me ajudou tanto): "Morrer é só não ser visto" de Ines de Barros Baptista.
Penso que não tem de existir uma dia, uma data para lembrar alguém. A verdade é que ha datas que forçosamente nos fazem lembrar aquela pessoa, mas sou da opinião, deviamos lembrar com frequencia.
Hoje fiz o "meu dever" e passeei-me por varios locais, todos eles frios, simbolizando o fim da vida. Não se adquam ás pessoas que eu lá deixei: alegres, vivas, quentes. Mas é assim que manda a tradição e foi para lá que tiveram de ir...