Alzheimer
Já pensei escrever sobre isto várias vezes. Acabei sempre por desistir. Não gosto de falar sobre isto!
No entanto, é o tema do momento. Depois de ler um post num blogue sobre a demência, decidi partilhar a minha opinião.
As palavras que me marcaram no blogue foram estas: a minha avó tem demência, mas ainda se lembra de nós. Nem quero imaginar se fosse alzheimer e ela não soubesse quem somos! (Não trancrevi)
A minha Ana tinha alzheimer. Foi duro. Nem sempre lidei bem com isso.
Na altura estava a entrar na adolescência e não queria acreditar que essa doença não tem cura, que aquela pessoa nunca mais se iria lembrar de mim. Também não sabia como é cuidar de alguém, que na verdade devia estar a cuidar de nós.
Piorou pois tivemos de a tirar da casa dela e ela não sabia quem éramos. Para ela éramos os monstros que a afastamos dos filhos (já bem crescidos) e do marido (que se recusou a acompanha-la).
Passamos vários meses com medo que ela nos fugisse. Com visitas frequentes dos vizinhos, pois ela tinha dias de gritar 24 horas seguidas (e os vizinhos achavam que a tratavamos mal). Dormia-mos mal, comíamos mal... Foi difícil (mas para ela talvez tenha sido mais)
Depois caiu, deu-lhe um AVC e repetiu logo a seguir. Uma grande percentagem de pessoas morre quando isso acontece, mas ela era uma mulher dura!
Deixou de andar e a partir dali foi ver a sua degradação, até ficar num estado quase vegetativo...
Durante este tempo era uma alegria tão grande quando ela chamava uma de nós pelo nome!
Foram 10 anos. Os últimos 3 anos não falava. Os últimos 3 dias não comeu.
A minha mãe optou por não a internar. Mas foi muito desgastante e doloroso para ela.
Não há apoios suficientes para quem tem a sua responsabilidade alguém demente.
Eu sou capaz de pedir, às entidades competentes, apoio psicológico para as pessoas que têm doentes a seu cargo. (e se não for pedir muito) Que esse apoio esteja disponível nas unidades de saúde locais e de preferência com um profissional que esteja presente mais que um dia por mês!
Eu costumo dizer que o alzheimer é pior que um cancro. E já explico: não tem cura, corrói a mente e o corpo, na maioria das vezes, muito lentamente. O cancro tem aquela esperança de ter cura...
Quem tem alzheimer não tem esperança!