Tenho exactamente a mesma idade que ele tinha quando eu nasci. Hoje ele completa mais uma primavera. Na minha memória ainda guardo o colo que nos dava quando chegava do trabalho. Como nós mudamos! Como a vida nos mudou...
Sempre fomos opostamente iguais: ele de educação machista nunca abandonou os seus principios. Eu já estive no outro extremo, sendo que hoje procuro mais a igualdade do que o feminismo extremista! Ele cada vez mais triste com as ausencias, eu procurando usufruir cada vez mais das presenças que ainda me restam...
Ele hoje faz 72 anos e sei que a vida não foi nada do que estava á espera, mas, sei que o problema foi ter ficado á espera!
Ele não sabe, que apesar das nossas diferenças, é o primeiro homem da minha vida; que se eu sou tão diferente dele foi porque aprendi a se-lo com ele.
É o Unico que nunca se esquece do meu aniversário, apesar de nunca o ter festejado.
Quem diria que as atividades de ontem iam correr tão bem!
Quem diria que aquele pánico paralizante que eu sempre tive do publico não se iria fazer notar!
Desde que pús os pés na escola que queria ser professora. Ideia que me foi "retirada" pela facto de durante anos os professores serem mais que a procura...
Eu que não queria "estudar para o desemprego", acabei a ficar no desemprego mesmo formada numa área de "muita procura".
Durante o periodo do desemprego fiz a formação de formadores. Mas todas as apresentações foram um tormento.
Por isso quando me convidaram para dar formação eu recusei, inventei desculpas e só aceitei depois de muita insistencia e porque me disseram que não tinham mais ninguem para aquela ufcd!
Ontem lá me apresentei eu, e para espanto meu, senti-me tranquila e feliz!
O que eu realmente gosto de fazer é partilhar conhecimentos. Foi tão bom... que estou a contar os dias para voltar á sala de aula!
Será que todo aquele sofrimento que os público me causava era na verdade o meu inconsciente a tentar justificar a minha decisão de renunciar ao ensino?
